28 de novembro de 2011

Missing


Por onde será que andam os new romantics?


24 de novembro de 2011

Une tragédie moderne



A angustia batia em seu peito desde a semana passada.
Um amor do outro lado do oceano. Uma festa em ritmo de vida nova. Só se fosse pra ela!
- Precisamos conversar.
Ele disse sem certeza nenhuma do que estava fazendo.
- Claro!
Ela respondeu despreocupada.
- Sobre o que você quer conversar? Eu estou pronta para falar sobre o que você quiser, só preciso saber o que é.
O anúncio da angustia ( ele preferiu não revelar todas as suas paranoias, ou ela o acharia louco )
não pareceu mudar o cotidiano novo e agitado dela. Mesmo assim, como todo mundo que é hipocritamente muito bem educado naquela parte do mundo, ela sempre romântica, se envolveu com toda a insegurança e questões do amor distante, como se fosse dela. Vai entender!
Sabe, eu disse para ele uma vez, numa conversa íntima entre amigos: Às vezes, as pessoas amam demais. Mas elas amam a ideia do amor e não a pessoa com quem estão se relacionando. A ideia de amor, essa ideia maluca que colocam nas nossas cabeças desde pequenos, o belo e a eternidade dos sentimentos, isso mexe muito com a gente.
Ele balançou a cabeça com um sorriso inocente no canto da boca. Eu acho que no fundo ele também era uma dessas pessoas. Vai saber!
O tempo passou como nunca tivera passado nos últimos 5 meses. A angustia crescia e já dava para notar no olhar dele. Sabe quando os olhos tremem? Quando esperamos uma notícia e qualquer barulho que lembre um toque do telefone, faz abrir um buraco no seu estômago e seus olhos saltam de desespero? É uma mistura de terror e esperança. Terror de sua intuição estar certa e esperança de ela estar absolutamente errada, como acordar de um pesadelo, como sentir calor e frio ao mesmo tempo. Maldita intuição!
Essa foi a primeira dor que ele sentiu por ela.
Mentira!
Essa dor ele já sentiu na noite em que ela foi embora. Mas foi uma dor bonita, se é que isso pode ser. Uma dor pura de esperança, com a certeza de que ia passar. E passou. Virou paixão, depois carinho, admiração e punhetas selvagens só pra ela. Era só nela que ele pensava. Era só por ela que ele vivia e que ele suportava aquela dor que se tornou saudade. Mais bonita ainda que a dor da partida.
Ainda assim, estava tudo certo. Mas de repente o tempo virou, simplesmente o vento mudou de direção assim, como dizem por aí, passou levando tudo o que encontrava pela frente. E ele estava lá, ela também. O vento só levou tudo.
Ela ligou.
- Eu conheci alguém aqui. Bem, eu não sei se é sério, parece que sim, ainda é cedo para dizer mas eu preciso ser honesta com você e com ele. Não se preocupe, não vou te abandonar. Só que precisamos mudar algumas coisas. Os planos. A gente tinha planos, certo?

" Por que diabos elas precisam ser sempre tão honestas? " Ele pensava inconformado enquanto seu corpo inteiro formigava. Como se o fato de ela estar o deixando nem importasse mais. Maldita esperança!

Depois, por alguns segundos a palavra " planos " perturbou a sua cabeça em ecos. Então se fora a metade de esperança que ainda lhe restava e ele era só terror. Ali no banco da praça onde ele almoçava todos os dias mas nunca parava para sentar, ali ele sentia a terceira dor por ela. Uma longa e malvada dor.
Com lágrimas nos olhos e o corpo inteiro ainda formigando, ele disse tudo o que lhe veio à cabeça. Ao contrário do que acontece com muitos, ele se deu bem com as palavras. Se mostrou forte e corajoso. E eu entendo muito bem a coragem nessas horas. Ela surge em reação à covardia, quando somos ameaçados por um covarde, quando vemos pessoas agindo covardemente com outras pessoas, a coragem ferve o nosso sangue e queima as nossas veias. Não tem como segurar, é uma explosão de coragem. Ele nunca foi um bom covarde.
Se despediram como amigos que nunca mais vão se ver. Ou melhor, se nós pudéssemos nos despedir de alguém que vai morrer, como seria? Foi isso que ele acreditou estar acontecendo. Ele se despedia de alguém que deixaria de existir em alguns dias, lembrando que não foram dias, foram meses. Ela, por educação como sempre, fez o mesmo. Se despediu.
O silêncio tomou conta da dor.
Durante três dias, ele quis morrer. Ele realmente pensou que fosse morrer.
Precisou ir ao médico. Enquanto o clínico geral o examinava com o estetoscópio, ele queria sofrer tudo de novo. Fechou os olhos e reviveu o momento em que ela lhe dizia tudo aquilo que o fazia perder as forças, tudo aquilo que ele queria esquecer mas não podia, lembrou palavra por palavra, se concentrou na dor esperando - talvez desejando, pois se assim fosse, ele poderia se entregar ao sofrimento por um motivo real e não banal como o amor, ninguém poderia lhe dar conselhos repletos de frases do tipo " Você vai encontrar alguém que te mereça! ", tem coisa mais patética do que isso? Ele poderia, em sua cabeça, para de trabalhar, de ver pessoas, parar de sorrir de uma vez por todas, afinal quem sorri quando se está morrendo?- o doutor achar algum problema com as batidas do seu coração.
No fim da consulta o bom médico disse: " Você está ótimo, rapaz! "
Ele não sorriu.
Foi pra casa, curtindo a melancolia que se esconde por trás do sol de um dia como todos os outros.


22 de novembro de 2011